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Kind heart, fierce mind and brave spirit.
As empresas, de todos os setores e dimensões, são confrontadas com um desafio constante: a inovação. Por inovação, não me refiro às pequenas melhorias tecnológicas, mas sim saltos corajosos que trazem ao mundo produtos ou serviços disruptivos e criam novas formas de trabalhar, produzir e pensar. O que implica mudança.
Diversos estudos permitem concluir que as pessoas tendem instintivamente a opor-se às iniciativas de mudança porque estas perturbam as estruturas de poder estabelecidas e a sua zona de conforto. No entanto, alguns líderes conseguem transformar com sucesso as suas empresas e adaptá-las a realidades tão inesperadas e exigentes como aquela que ultrapassamos por via da pandemia covid-19. O que os tornará capazes de exercer esse tipo de influência?
Em primeiro lugar, diria que para inovar é preciso ter um “brave spirit”. E a razão pela qual a coragem é o ingrediente mais importante na inovação é porque ela nos leva para fora da nossa zona de conforto e nos impulsiona a ir além do medo. O momento em que pensamos: What if I fall? e a coragem nos sussurra: Oh, but darling... What if you fly? Pessoas capazes de tomar a iniciativa e de exercer influência como agentes de mudança, correndo o risco de falhar, devem ser centrais numa empresa. Não significa que se atirem para o abismo sem equipamento. É aqui que entra a confiança na equipa e a inteligência coletiva. Os seres humanos precisam de segurança e estabilidade para serem criativos e esta segurança pode assumir várias formas. É quase impossível ativar o pensamento criativo quando estamos em crise, com medo de falharmos ou de sermos humilhados, ou em completo desconhecimento ou incompetência fase a um desafio. Mas, ao mesmo tempo, é a necessidade de criar uma nova solução para resolver um problema que nos impulsiona a fazer acontecer e a procurar no desconhecido a nova zona de conforto, contando com a “rede” das nossas relações. As relações bem sucedidas dependem da eficaz gestão deste paradoxo. Sentimo-nos mais relaxados e seguros quando uma relação é estável e existe plena confiança, mas mais alerta com a novidade e o desconhecido. Sabemos que há algo mais a descobrir e que devemos procurar a evolução constante, nossa e do outro, a partir do porto seguro que já foi construído. O que dificilmente conciliamos sem capacidade de raciocínio e de encontrar novas soluções, através de uma “fierce mind”.
Em 2017, num evento na Microsoft sobre “Trabalhar com Propósito”, partilhei a opinião de que trabalhar com propósito não implica ser empreendedor, ou empresário. Tanto propósito como inovação estão disponíveis para qualquer pessoa, em qualquer contexto, a fazer seja o que for. Melhor ainda, há inovação e propósito que chegue para todos e, quanto mais deles façam uso, maior a sua existência. Aqueles que não optem por criar um negócio, encontram o seu propósito numa organização, numa empresa, através de um serviço freelancer, ou em parceria com pessoas com as quais sentem identificação. Estarão a trabalhar com propósito ao manterem presentes os valores basilares que conectam a sua ação com a sua verdade. Escolhem um modo de estar na vida e no trabalho mais flexível, eficiente e resiliente, pois o que importa é a sua responsabilidade e competência.
As maiores marcas do mundo são bem-sucedidas, não pelo que fazem ou vendem, mas por aquilo em que os seus líderes (pessoas) acreditam e na visão que têm para um mundo melhor, que os faz procurar a melhor forma de desempenhar e desenvolver soluções adequadas ao contexto. Estas empresas são únicas porque a sua cultura é única. Criam experiências extraordinárias porque têm uma mentalidade extraordinária. As empresas mais inovadoras não fazem benchmarking, elas fazem à sua maneira, inspiram, desafiam e movem as demais. Não têm medo de questionar e de, ao longo do caminho, mudar a maneira como todos nós pensamos.
Assim como as empresas, as pessoas precisam de evolução constante para prosperarem. Isso começa com a criação de líderes na sua estrutura, que reconhecem que querem trabalhar de uma maneira particular. Não obstante a era digital cada vez mais automatizada em que vivemos, o trabalho será sempre centrado no ser humano e estamos todos envolvidos, conscientemente ou não, no sentido intencional que damos à nossa própria evolução – que implica o que fazemos, porque fazemos, como e com quem. É a partir da consciência de evolução das suas pessoas que as organizações começam a evoluir, de dentro para fora. Modos de trabalhar alinhados com um propósito impulsionam o comportamento consistente da equipa e são aquilo que impulsiona mudanças efetivas, inovação e resultados. Para alcançar esse alinhamento, as pessoas dentro da organização precisam de sentir que estão conectadas entre si e a si mesmas.
Ao escolhermos o caminho da curiosidade, escolhemos também trabalhar a partir do coração: “kind heart”. É da raíz “coeur” que vem a curiosidade. O coração é a porta através da qual conectamos com a procura pela versão mais autêntica de nós mesmos, em tudo o que fazemos. A curiosidade nutre-nos além da satisfação momentânea. Ao trabalharmos com propósito agimos a partir de quem somos e não a partir do que nos é imposto. O propósito vindo do coração e a adaptação à mudança são fundamentais para a prosperidade e evolução humana, sejam quais forem as circunstâncias e, como diria Fernando Pessoa, consiste em pormos tudo aquilo que somos naquilo que fazemos.
Sandra Viana @ www.loba.house
Foto: Morangal "Quintinha do Sarilho" em Mação. Exemplo do trabalho com kind heart, fierce mind e brave spirit do João Alves. https://www.facebook.com/quintinhadosarilho/
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