Decisões empresariais e dores de crescimento, na perspetiva de uma constelação sistémica

15 de setembro de 2023

Quem recuar diante da realidade como ela é, por ter o desejo interno de que ela fosse diferente, enfraquece. - Bert Hellinger

Ontem ouvi a história de um empreendedor que tinha um pequeno negócio de automóveis clássicos muito bem sucedido. Teve visão, era muito bom no que fazia e no valor que acrescentava, contanto com serviços externos dos melhores profissionais.

Decidiu crescer, seguindo conselhos de algumas pessoas à sua volta. “Porque pagas tanto em lavagens? Por "x" instalas equipamento de lavagem, contratas uma pessoa e poupas "y". Porque não contratas também o teu próprio mecânico e o teu próprio fotógrafo e o teu próprio comercial para atender os clientes? Porque não alavancas o teu negócio com a banca?” Assim fez, passou a ter dez pessoas contratadas com salários acima da média pois valoriza bons profissionais, um milhão de euros em linha de crédito, aumentou o número de viaturas e aumentou a sua faturação.

O seu produto não deixou de ser bom, mas o serviço perdeu qualidade. No final do último ano, o empreendedor olhou para os seus dividendos e pensou: “195.000€? Perto disto já eu fazia sem esta estrutura de custos, com uma relação personalizada com cada cliente, a almoçar durante 3h com a família, clientes e amigos, cada vez que me apetecesse, a desfrutar de tempo livre. Sem uma estrutura de dez empregados a meu cargo, sem o elevado volume de impostos a pagar todos os meses, sem uma dívida de um milhão de euros e sem a pressão, a responsabilidade legal, os problemas diários e a falta de tempo para gerir um negócio tão pesado!”

Créditos da imagem: @capivarinhapantaneira

O empreendedor passou a andar exausto, sem tempo para o que mais gostava de fazer, que era partilhar a sua paixão pelos carros clássicos com os clientes, que agora raramente via, e passou a ser um gestor de recursos em grande escala em vez de um líder visionário. A ordem e o equilíbrio perderam-se.

As pessoas à sua volta estão cada vez mais orgulhosas do “sucesso” daquele empreendedor. Afinal, passou de um pequeno negócio de carros clássicos para um grande negócio! Mas, o que é que isso significa e como se reflete na sua vida e na sua empresa? Será que os conselhos que recebeu foram maus? Não.

Numa empresa não existem “bons” conselhos e opiniões certas ou erradas. O conselho é mais como uma constelação aleatória de pensamentos pessoais sobre as infinitas possibilidades da existência e da trajetória de uma empresa, que não pode substituir a visão de quem a criou. Durante uma carreira empreendedora, recebemos muitos conselhos. Se tivermos sorte, a maior parte deles foi solicitada, mas quem nunca criou uma empresa ficaria surpreendido com a quantidade de gurus com opiniões e conselhos não solicitados.

Quem dá a sua opinião tem a melhor intenção, mas teoricamente e para si mesmo, não para o empreendedor, até porque não sabe o que é estar no seu lugar. Quem defende que os empreendedores têm a obrigação de criar muitos postos de trabalho e critica os salários que a empresa pode suportar, não tendo noção da carga de impostos e reais custos e riscos associados a cada contrato, é livre de fazer por si mesmo exatamente aquilo que defende. Afinal, quem pode sonhar pode realizar! Por outro lado, ao criar aqueles empregos na sua estrutura, o empreendedor dos carros clássicos deixou de contratar serviços a todos os profissionais liberais e outras pequenas empresas parceiras com que trabalhava antes, para que só a sua empresa pudesse crescer.

Há uns anos, fui contactada por um autoproclamado influencer a quem falaram da LOBA. A sua curiosidade estava relacionada com número de pessoas, número de clientes e até com a morada do escritório. A visão não interessava, nem tomou atenção ao método diferenciado, assumindo que era igual ao que já conhecia nos EUA. Mais tarde, diversas pessoas me contaram que em formação, em que ele apresentava modelos americanos, quando lhe referiam a LOBA como exemplo em Portugal a resposta dele era: a LOBA só tem três pessoas, não interessa. Não (lhe) interessa para contratar os seus serviços de formação, porque o que ele vende às agências é o que já foi feito, fórmulas de sucesso e crescimento, para quem as procura e quer ser líder de mercado. E as suas agências clientes estão direcionadas para crescerem desmesuradamente e multiplicarem-se, tal como células cancerígenas, até o sistema não ter vida com que as alimentar.

Uma empresa líder de mercado não é a que tem mais colaboradores, volume de negócios, nem a maior quota de mercado, é uma empresa que, em vez de copiar as fórmulas de sucesso das que já existem, escreve a sua própria história e guia as demais para um novo caminho. É uma agência que cria um modo de estar e de fazer diferente e que, através da sua visão e coerência, tem um sentido de direção bem definido.

Crescer rapidamente e de forma não natural raramente é benéfico para os clientes e para as equipas. Apesar de ser socialmente muito bem visto ao nível do ego, é igualmente mal visto ao nível da inveja alheia e de se esperar que um empreendedor partilhe cada vez mais aquilo que recebe, sob pena de ter "lucros demasiado altos" e dividendos com o trabalho da sua equipa. Porque toda a gente tem uma opinião acerca do que está certo ou errado, do que é justo ou injusto, proporcional ou não, e nenhuma ideia acerca do que a pessoa vive, daquilo que sacrifica e de como cada elemento da equipa e cada cliente se sente.

Somos, inconscientemente, muito mais leais aos que nos observam e acompanham do que livres, mas não podemos esperar que as opiniões de alguém se assemelhem a algo próximo de uma coleção de etapas indispensáveis, ainda que essa pessoa faça parte da nossa constelação e mereça ser vista e ouvida. Manter a visão e a intuição, em vez de tentar reproduzir o caminho que outros acham que fariam. É preciso estar atento a todos os erros e as contradições à medida que surjam. O nosso trabalho, como empreendedores, é transformar esses erros e contradições à medida que nos vamos desviando, não apenas do nosso caminho, mas também do nosso lugar e da nossa função na constelação de uma empresa.

Sandra Viana, LOBA

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